terça-feira, 25 de novembro de 2008

Também isso não é um trabalho de escravo, e eu aqui a perder meu tempo para decidir o que escrever, tentando lembrar algo de hoje de manhã que me chamou atenção. Penso que era sobre a consciência, a nossa e a de todos, mas já não poderei escrever; talvez me venha idéia outro dia, brotando do inconsciente, como uma fonte, e eu vá a fonte com minhas mãos em concha, porque assim é, e de todo o manancial talvez algo se salve. Hoje, não. Hoje perdeu-se tudo (não se perdeu, está lá guardado, transformando-se).
Hoje ainda estou sob o deslumbramento do Sertão, "o sertão místico disparando no exílio da linguagem comum":
"E veja: eu vinha tanto tempo me relutando, contra o querer gostar de Diadorim mais do que, a claro, de um amigo se pertence gostar; e, agora aquela hora, eu não apurava vergonha de se me entender um ciúme amargoso. Sendo sabendo que Medeiro Vaz depunha em Diadorim uma confiança muito maior do que em nós outros todos, de formas que com ele externava os assuntos. Essa diferença de regra agora me turvava? Mas Medeiro Vaz era homem de outras idades, andava por este mundo com mão leal, não variava nunca, não fraquejava. Eu sabia que ele, a bem dizer, só guardava na memória de um amigo: Joca Ramiro tinha sido a admiração grave da vida dele: Deus no Céu e Joca Ramiro na outra banda do Rio. Tudo o justo. Mas ciúme é mais custoso de sopitar que o amor. Coração da gente - o escuro, escuros."
Grande Sertão: Veredas

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