terça-feira, 25 de novembro de 2008

Deve ser tempo, então, de contar outra história, essa mais triste ainda foi para mim do que a da mulher espancada. Imagino que tenha sido essa uma das primeiras a me fazer tirar a fatal conclusão mencionada anteriormente.
Minha mãe a contou para mim, depois de a ouvir do meu tio a uns 15 anos atrás.
Mas agora, que preciso começar, as palavras me fogem, pois não sei se devo dizer primeiro que o menino era quase um bebê, tinha uns três anos, ou que a causa disso tudo foi ter ele riscado todo o carro de seu pai com a chave, como só a inocência de uma criança poderia fazê-lo sem culpa, ou mesmo ainda dizendo que era uma tarde de um dia qualquer e que imagino a cena em minha própria garagem, mesmo sendo mentira, porque é muito difícil, ao mínimo sinal da imagem do pai batendo tanto, mas tanto, na mão do filho, que não podia saber o que tinha feito, as lágrimas começam a marejar meus olhos, e mesmo assim não posso chorar, o que quer que seja que sou eu e que não tem nome dentro de mim é que se carpe. O início afinal saiu, e não tenho escolha se não dizer que o estado da mão do menino deve ter ficado muito feio, já que seu pai, seu pai mesmo, o teve que levar ao hospital, onde lhe amputaram a mão, agora sim, com o pai compungido de tristeza, sem mais fazer que chorar e ouvir seu filho, seu filho, dizer que não fique assim papai, minha mãozinha cresce que nem meu cabelo depois de cortar, e quão surpresos devemos ficar ao saber que o pai se matou ao chegar em casa.
Confesso que são histórias excessivamente dramáticas, mas não tão raras como paressem, exemplos que são dos momentos de alienação, da perda do controle do homem sobre sobre si mesmo, um instante apenas e um egoísmo explosivo desaba a vida de pessoas tão inocentes quanto podem ser, sempre culpadas por tudo.
Escrevi o texto como remédio também, e por ter lembrado do Burrinho Pedrês: "Quanto exagero que há..." Me pergunto porque não posso só sentar à beira de um rio. Pôr meus pés na agua fria se eu quiser, deitado à sombra de qualquer árvore e sem pensar em nada. Só estar ao pé do rio.

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