segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Há algum tempo, em virtude de certos casos ocorridos comigo, veio-me um pensamento muito simples, claro, e que, depois da angústia de tê-los vivido, transformou-se em verdade exata, quase premonitória, além de extremamente lúcida: a humanidade não vale o que se lhe paga. Um dos últimos foi muito pessoal, e pode ser que quem o saiba me diga que dou muita importância a ocorrências inócuas, uma maior presença de espírito e nem haveria de dar-lhe confiança tão grande. Dei-a, contudo, e foi o caso que uma vez, passando ao lado do teatro de minha cidade, tentei ver por uma porta lateral o que ocorria lá dentro, que tanta música e agitação de lá se percebia. Apareceram dois meninos, eram de fato, não passavam dos 16 anos, e começaram, de dentro do teatro, a perguntar-me que é que eu estaria olhando, que fosse embora, vacilão. Um deles segurava uma bola de basquete. Pode ser que tenha sido um caso menor, mas que não diminuiu de maneira nenhuma meu sentimento de completa ausência desse mundo, como se fosse incapaz de atingir as pessoas, porque elas mesmas não querem ser atingidas, se só repelem.
Hoje, sabendo de outra dessas histórias, uma agitação tremente, uma explosão de raiva remitida em mim fez com que por um momento perdesse o sentido das coisas ao meu redor. Uma mulher, pelos vinte anos, foi espancada pela ex de seu namorado e mais duas amigas, isso na quinta-feira, no domingo, hoje, essa mulher morreu. Contusão pulmonar; o sangue entrando em cada alvéolo, desmanchando o equilíbrio das trocas gasosas, a morte lentamente cada vez mais próxima. Deixou um filho de dois anos. Que não o tivesse deixado, que as tivesse provocado antes, o que até onde sei não ocorreu, não posso entender, não posso perceber a lógica, a razão, o motivo, o que leva três mulheres, num ato de extrema covardia, a espancarem outra, e seu namorado vendo tudo, e por não conseguir apartá-las, fugir, pois essa é a palavra, deixando-a como um animal, sem nem se preocupar em chamar a polícia, um amigo, qualquer pessoa, para ajudá-lo; imagino se o desespero que sinto em imaginá-la ser linchada do modo que foi foi o mesmo que acometeu o namorado, se menor, se não o houve de todo.
Alguns irão me lembrar das epidemias, de fome, de aids, na Áfrcia, da selvageria do capitalismo que causa estes e outros problemas à população pobre, a pobreza em si, tudo, toda a podridão do mundo, e,mesmo assim, não seria capaz de considerar este como um crime menor; mais um, pois mais um tem de se tornar, em face da já anunciada cegueira de que o homem está a sofrer desde que percebeu que podia poder e que nunhum deus o subjugaria por ter subjugado o seu semelhante.
Digam lá se aquela minha primeira idéia, a princípio tão pessimista, não possui fundamentos.

Um comentário:

amor (da cabeça aos pés) disse...

As pessoas não querem ser atingidas e vivem todas ausentes no mesmo mundo.
Um brinde à humanidade, André.
Obrigada pela visita, apareça mais vezes! Gostei do teu blog, vou adicionar aos links no meu blog
Abraço